I.Ladvig
Ao caminhar solitário em uma noite gélida e sombria, entre os
fumacejos da fabrica do medo, ouvi na alameda tristonha alguém me chamando. Por
um momento, estarrecido pelo pavor explicável não respondi, sequer olhei.
Continuei meus passos por aquela rua deserta. Novamente alguém me chamou, a voz
parecia familiar, então, sem pensar fui ao encontro.
Perguntou-me para onde estava indo. Por um momento titubeei em
responder e parei por um instante, como se não soubesse o caminho de volta para
casa. Então, pediu-me para não temer e segurou fortemente a minha mão.
Havíamos ficado horas conversando e nos esquecemos da fragilidade
do tempo, quando a névoa interpelou-nos. Como voltaria para casa sem poder
enxergar claramente o caminho? Foi quando me disse para não me preocupar, que
tivesse fé e acreditasse que logo estaria novamente em casa. Sem saber, fitei-o
firmemente nos olhos e perguntei-lhe como isso seria possível sem ter noção de
qual rumo tomar?
Em um piscar de
olhos ele me deixou no portão de casa. Fiquei alegre e agradecido. Convidei-o
para entrar e tomar um chá comigo. Educadamente, agradeceu, em outra ocasião,
aceitaria. No ensejo, pedi que entrasse e conhecesse minha família. Qual foi
minha surpresa quando respondeu que já nos conhecia. Ainda não refeito,
perguntei-lhe de onde, e ele me respondeu que sempre esteve entre nós, em todas
as horas de nossas vidas, alegres e tristes, compartilhando conosco cada
momento, enternecido pelos laços fraternos que nos uniam. Quando perguntei seu
nome, respondeu-me que era aquele que estava no recôndito do meu coração,
amparando-me nas horas difíceis e alegrando-se comigo nos momentos felizes.
Despediu-se. Perguntei, então, quando nos veríamos novamente.
Sorrindo, respondeu-me que nunca deixaríamos de nos ver, pois estaria
sempre comigo, para mostrar-me o caminho quando ficasse novamente perdido ao
longo das alamedas da vida.